Conheça três premiadas cientistas brasileiras com trabalhos fundamentais para a conservação da natureza

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Patrícia Médici, Flávia Miranda e Neiva Guedes são três referências em suas áreas de atuação, internacionalmente premiadas por suas contribuições científicas para a conservação de espécies e, consequentemente, da natureza como um todo.

O que você vai ler nesse texto?

Se você gosta de viajar para ambientes de natureza preservada e contemplar animais como tamanduás, preguiças, araras-azuis ou as fascinantes antas…

Se você gosta de saber da importância desses animais para o equilíbrio ecológico e sobre a preservação destas espécies…

Se você gosta de conhecer belos casos de protagonismo feminino e de superação, vem conosco conhecer um pouco mais dessas mulheres que fazem toda a diferença.

Patricia Médici

Patrícia foi contemplada, em 2020, com o Whitley Gold Award. Trata-se da principal honraria para conservacionistas no mundo: uma honraria tão grande que é chamada de “Oscar verde”, numa alusão à famosa estatueta do cinema.

Patrícia é engenheira florestal, mestre e doutora em conservação de vida selvagem.

Se apaixonou pelas antas há mais de 25 anos e se tornou a maior especialista do mundo nesse animal

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O trabalho de Patrícia e sua equipe já rendeu a criação do maior banco de dados sobre a espécie no mundo.

Patrícia Medici é cofundadora do IPÊ e coordenadora da INCAB – Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira

A anta-brasileira (Tapirus terrestris) é uma das espécies mais importantes do país e o maior mamífero terrestre da América do Sul.

“Ao estudar e defender a causa da conservação da anta brasileira, estamos defendendo também as nossas próprias vidas, nossos recursos naturais e nossa saúde. A anta ‘brinca’ com a composição e diversidade da floresta e é grandemente responsável pela formação e manutenção da integridade desses ambientes”, afirma a pesquisadora.

No mundo, há quatro espécies de anta: além da anta-brasileira, existe a anta-da-montanha (que vive nos Andes), a anta-centro-americana (encontrada na América Central) e a anta-asiática (Indonésia, Malásia, Mianmar e Tailândia). 

O trabalho da Patrícia acontece no Pantanal, Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica e um de seus mais recentes projetos é estudar por que a espécie desapareceu da Caatinga.

Flávia Miranda

Flávia é referência mundial em estudos e conservação de animais da superordem xenarthras que engloba tatus, tamanduás e preguiças.

Além disso é médica-veterinária, professora da Universidade Estadual de Santa Cruz em Ilhéus (BA), fundadora e presidente do Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás do Brasil.

Junto a uma equipe multidisciplinar, Flávia catalogou sete espécies diferentes de tamanduaí (Cyclopes didactylus) – um pequeno animal que cabe na palma da mão.

Até então, apenas uma espécie havia sido descrita em 1758 pelo naturalista sueco Carl Nilsson Linnaeus: ninguém menos que o pai da taxonomia.

Referência mundial em estudos e conservação destas espécies, Flávia orienta grupos de especialistas da Comissão de Sobrevivência de Espécies (SSC), da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Para ela, ser uma mulher na conservação é “buscar desafios, enfrentar coisas inesperadas, conseguir superar. A gente tem um felling diferenciado de fazer várias coisas ao mesmo tempo, então quando a gente consegue aplicar isso para a conservação, acho que é case de sucesso”.

Premiações recentes

Patrícia Medici e Flávia Miranda são indicadas ao Prêmio Indianápolis 2023, um dos mais importantes para a conservação animal no mundo, criado em 2006 pela Indianapolis Zoological Society.

A cada dois anos o Prêmio Indianápolis reconhece pesquisadores de várias partes do mundo por suas “contribuições extraordinárias aos esforços de conservação”, que alcançaram grandes vitórias no avanço da sustentabilidade de uma espécie animal ou de um grupo de espécies.

Neiva Guedes

Neiva é bióloga e faz um trabalho em prol da preservação das araras-azuis.

Ela integra o hall da fama da ONU Mulheres, braço das Nações Unidas que promove o empoderamento da mulher e igualdade de gênero….

Neiva Guedes é graduada em biologia pela UFMS (1987) com mestrado em Ciências Florestais pela ESALQ/USP (1993). Doutora em Zoologia pela UNESP/Botucatu (2009). É professora e pesquisadora do Programa de Pós Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Uniderp.

Os estudos da profissional a levaram a fundar o Instituto Arara Azul.

O início de tudo e uma promessa cumprida

Tudo começou quando ela se capacitava em conservação da natureza quando avistou uma árvore seca com araras-azuis.

Naquela ocasião, há mais de 30 anos, seu professor disse que os animais estavam fadados à extinção.

Ali, Neiva fez ali uma promessa que se cumpriu em 2014: não deixaria as araras-azuis desaparecerem. A especialista deu início aos estudos que culminaram na criação do Instituto Arara Azul, na década de 1990.

Ela buscou salvar a espécie da extinção e conseguiu.

“Precisei buscar informações e estudar as araras-azuis na natureza. Naquela época, não tinha método para estudo. Tinha eu, uma mulher no Pantanal sem ser de lá”.

Entre os problemas que potencializavam o risco de extinção da espécie estava a falta de ninhos.

“Instalamos mais de 450 ninhos artificiais na natureza. Realizamos também um trabalho de educação ambiental. Quanto mais conhecimento a gente dá para a população, mais ela acaba sendo parceira do projeto”

O trabalho também busca conscientização da população contra a caça ilegal da arara-azul.

“As mulheres têm feito muita coisa importante na ciência. Elas conseguem fazer multitarefas. Cuidam da pesquisa e ainda se dividem com a casa. A elas, digo que continuem lutando e procurando mostrar seus trabalhos. É só gritando e mostrando nossos resultados que vem a credibilidade. Mas precisamos melhorar esse caminho das mulheres. As pessoas têm que acreditar. Não desistir do sonho. Tem que correr atrás. Ir à luta”

Embora tenha tido o trabalho de uma vida reconhecido, Neiva alerta para os riscos que as araras-azuis ainda estão expostas, como as mudanças climáticas, as queimadas e a falta de financiamento para pesquisa, além da falta de políticas públicas de proteção animal

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Saiba mais consultando as fontes desta matéria:

Ciclo Vivo , IPE , Conexão Planeta , Mongabay , Eco 21 , UOL

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