Conheça cinco estratégias de resistência do Povo Yanomami

Tempo de leitura: 8 minutos

Além do projeto que promove o turismo ao Pico da Neblina/Yaripo, recentemente, o Povo Yanomami ainda realizou um filme de sucesso internacional durante a pandemia, aprendeu a produção de chocolates e cogumelos orgânicos e mobilizou centenas de milhares de pessoas em um abaixo-assinado em defesa do seu território.

Neste artigo, você conhece um pouco da história desse povo, em seguida, conhece mais a fundo essas ações de resistência.

O POVO YANOMAMI

De acordo com estudos de geneticistas e linguistas, os antigos Yanomami teriam ocupado a área das cabeceiras do Orinoco e Parima (próximo à atual fronteira entre Brasil e Venezuela) há um milênio e, ali, iniciado o seu processo de diferenciação interna (há 700 anos) para acabar desenvolvendo suas línguas atuais

Atualmente, constituem um conjunto cultural e linguístico composto de, pelo menos, quatro subgrupos que falam línguas da mesma família (Yanomae, Yanõmami, Sanima e Ninam).

A população total dos Yanomami, no Brasil e na Venezuela, era estimada em cerca de 35.000 pessoas em 2011. No Brasil, eram estimados em cerca de 20 mil pessoas neste mesmo ano.

Seu território cobre, aproximadamente, 192.000 km², situados em ambos os lados da fronteira Brasil-Venezuela.

O contato de boa parte desses grupos Yanomami com o não indígena é relativamente recente. Foi entre as décadas de 1910 e 1940 que isso aconteceu.

Desde então, a História conta sobre uma série de conflitos e dizimações de grupos yanomami por conta de interesses econômicos em seus territórios.

Saiba mais sobre a História do povo Yanomami em:

ISA (Instituto Socioambiental) – fonte desse texto

Até a redação deste texto, estima-se que 20 mil garimpeiros ainda estejam em território yanomami desmatando a floresta, poluindo os rios e levando doenças para esse povo.

É dentro deste território que está o ponto mais alto do Brasil: O Pico da Neblina ou Yaripo: a Montanha dos Ventos, na língua yanomami.

E é para manter sua cultura, seu território e sua sobrevivência que os yanomami estão realizando os projetos de resistência que listamos a seguir:

A expedição ao Pico da Neblina/Yaripo guiada pelos Yanomami

O Projeto Yaripo, Ecoturismo Yanomami é uma das experiências mais autênticas do turismo brasileiro atual.

Isso porque trata-se do ponto mais alto do Brasil, desejo de muitos aventureiros, amantes da natureza.

Também, porque o Pico da Neblina é cercado de uma Floresta Amazônica, praticamente, intocada e a subida até o cume exige muita preparação física e mental de quem decidir encarar esse desafio.

No entanto, o que torna essa subida ainda mais especial é a presença dos Yanomami. Para este povo que conhece a região há séculos, o Pico da Neblina se chama Yaripo: A Montanha dos Ventos.

O Yaripo faz parte da belíssima cosmovisão yanomami: É lá onde vivem muitos espíritos.

A companhia dos Yanomami na subida vem trazer o elemento cultural, o conhecimento da Floresta que só este povo tem.  

Veja nossa postagem: 8 motivos para você subir o Pico da Neblina/Yaripo

Ao longo de quase 20 anos, o Pico da Neblina ficou fechado para o turismo. Isso porque o Parque Nacional onde se encontra o Pico fica dentro de território Yanomami.  

Desde 2015, uma articulação que envolveu Associações Yanomimi como a AYRCA, o ISA (Instituto Ambiental), a Fundação Nacional do Índio (Funai) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), iniciou um processo de planejamento para a volta das expedições ao Yaripo.

Em seguida, três operadoras de turismo, entre elas, a Ambiental Turismo, foram selecionadas para cuidar da comercialização e operação dos roteiros.

Em 2022, as viagens foram retomadas.

Na primeira expedição que a Ambiental Turismo fez ao Pico da Neblina/Yaripo em março de 2022, a repórter Sonia Bridi, da Rede Globo, esteve em nosso grupo de viajantes e preparou essa reportagem para o programa Fantástico que você pode conferir clicando no link da imagem abaixo:

O sabor inédito dos Cogumelos da Amazônia

Os Sanöma vivem em Roraima, próximos da fronteira com a Venezuela.

Eles são parte do povo Yanomami, grandes conhecedores das propriedades dos cogumelos e portadores do necessário conhecimento para distinguir quais são os comestíveis, os utilizam como proteína que substitui a carne, principalmente quando há escassez de caça.

Esse povo tem comercializado os cogumelos como forma de gerar renda e para manter a floresta e sua cultura preservada diante das invasões de não-indígenas que seu território vem sofrendo.

O produto comercializado é um mix com mais de 10 tipos de cogumelos diferentes e com um sabor inédito para quem aprecia esta iguaria, tem conquistado muitos chefs de cozinha.

No site oficial do projeto, você pode comprar o produto, conhecer um pouco mais sobre o projeto e aproveitar as sugestões de receita que eles oferecem.

Se você está em São Paulo, pode comprar os cogumelos yanomami em:

  1. Mercado de Pinheiros – Box Amazônia

Rua Pedro Cristi, 89, Pinheiro, São Paulo/SP.

Segunda a sábado, das 8h às 18h.

Tel.: 11 3032.0875.

2. A marca Mãe Terra também tem comercializado produtos com os cogumelos yanomami.

Para uma reportagem bem aprofundada sobre os cogumelos yanomami, acesse:

BBC: Como cogumelos descobertos por Yanomamis estão conquistando chefs renomados

O Chocolate Yanomami

Para evitar que jovens indígenas sejam recrutados para garimpos ilegais, os povos que vivem na Terra Yanomami passaram a investir na produção de chocolate. O cacau usado no doce é nativo dos municípios de Amajarí e Barcelos, parte do território yanomami, em Roraima e Amazonas.

Com a produção do chocolate, feito apenas com cacau e rapadura orgânica, os Yanomami pretendem criar um impacto econômico na região e, assim, mostrar aos mais jovens que existem possibilidades para geração de renda fora dos garimpos.

O produto é desenvolvido pelas comunidades indígenas Yanomami e Ye’kuana com apoio do Instituto Socioambiental (ISA) e supervisão do especialista em chocolate César de Jesus Mendes, o De Mendes.

Segundo o especialista o Chocolate Yanomami- Ye’kwana é equilibrado e apresenta uma textura que permite distribuição lenta na boca. “Certamente uma das maiores experiências sensoriais da minha vida”, comenta De Mendes…

“Eles têm um modo de enxergar a vida muito diferente, o que acaba sendo traduzido no sabor do próprio chocolate. Os Yanomami e Ye’kwana são muito respeitosos, sensíveis, humildes e humanitários”, completa o especialista.

“Este cacau diferente e natural só existe porque os índios estão protegendo a floresta e manejando ela há milhares de anos”, explica Moreno Martins, representante do ISA (Instituto socioambiental), em Boa Vista.

Veja mais sobre esse processo de produção do Chocolate Yanomami abaixo:

O Filme yanomami: A Última Floresta

 Uma dica imperdível se você quer conhecer um pouco mais da cultura yanomami é assistir ao filme A Última Floresta (@aultimafloresta).

O longa-metragem traz para as telas a cultura e a luta do povo Yanomami pela sua sobrevivência.

A produção é dirigida por Luiz Bolognesi (@luizbolognesi66) e tem roteiro co-escrito pelo líder indígena Davi Kopenawa Yanomami, além de contar com diversos indígenas yanomami na equipe.

Prêmios internacionais de cinema

A Última Floresta já foi premiado em vários festivais internacionais, como o Prêmio do Público no Festival de Berlim e Prêmio de Melhor Filme no Seoul Eco Film Festival e está em exibição em vários países do Mundo.

Até a data desta postagem, o filme ainda estava no catálogo da Netflix. Vale a pena procurar lá se você for assinanante.

Veja o trailer de A Última Floresta logo abaixo:

Campanha #ForaGarimpoForaCovid

A pandemia de Covid-19 foi uma enorme ameaça a vidas Yanomami. Isso porque em seu território indígena, milhares de garimpeiros levam para a floresta, além de violência e problemas sociais, o vírus que pode dizimar aldeias.

Um estudo do ISA (Instituto Socioambiental), lançado em junho de 2020, feito em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com revisão da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), relatava que 40% dos indígenas que vivem próximo a garimpos na Terra Indígena Yanomami poderiam ser contaminados com a Covid-19.

Para evitar uma catástrofe de repercussão mundial, o Fórum de Lideranças Yanomami e Ye’kwana lançou a campanha #ForaGarimpoForaCovid.

Os indígenas, articulados com organizações brasileiras e internacionais, mobilizaram mais de 439 mil assinaturas na petição #ForaGarimpoForaCovid.org, com o objetivo de pressionar o governo pela desintrusão do território e retirada dos invasores do território.

Só com o garimpo fora da Terra Indígena Yanomami os indígenas poderiam fazer o isolamento e afastar o perigo do novo coronavírus.

No dia 3 de dezembro de 2020, a campanha #ForaGarimpoForaCovid entregou aos deputados federais a petição.

Na ocasião da entrega, uma intervenção artística com desenhos de Joseca Yanomami projetou os xapiris (os espíritos yanomami da floresta) e frases do líder Davi Kopenawa na fachada do Congresso por quase duas horas.

Fonte da informação: ISA – Instituto Socioambiental


SOBRE A EXPEDIÇÃO AO PICO DA NEBLINA E SOBRE A CULTURA YANOMAMI, LEIA TAMBÉM: