Jane Goodall: revoluções científicas, superações, lutas contra o preconceito e preservação dos Chipanzés

Tempo de leitura: 6 minutos

No terceiro texto de nossa série que apresenta o trabalho de mulheres responsáveis por grandes lutas cujos resultados podem ser conhecidos em viagens, falaremos sobre Jane Goodall. A série vai publicar um texto por semana, durante o mês de março.

Até que Jane Goodall observasse um chipanzé pegar um pequeno galho, retirar suas folhas, inseri-lo dentro de um pequeno túnel em um cupinzeiro para “coletar” cupins que lhe serviriam de alimento, a Ciência considerava que a diferença entre os Seres Humanos e os Animais era a capacidade de utilizar ferramentas.

A partir desta observação de um primata criando e utilizando uma ferramenta, precisou-se redefinir o que era o conceito de Homem para a ciência ou seria mandatório aceitarmos que os chipanzés eram humanos.

E esta não foi a única descoberta de Goodall que revolucionou o que a ciência sabia. Até então, pesquisadores consideravam que esses primatas não comiam carne. A então jovem britânica os flagrou comendo um porco-do-mato-africano e, com isso, mais um dado com o qual a ciência trabalhava foi modificado.

Mais para frente, em sua pesquisa, ela chegou a presenciar um ato de canibalismo, entre os chipanzés, trazendo outra novidade que revolucionou a concepção que tínhamos desses animais tão próximos de nossa espécie humana.

Para além de suas contribuições que são um marco para a ciência mundial, a história de Jane Goodall é uma sucessão de superações pessoais e de amor, e engajamento à preservação dos chipanzés e da natureza como um todo…

Contra todas as dificuldades e preconceitos

Jane Goodall: revoluções científicas, superações, lutas contra o preconceito e preservação dos Chimpanzés
Foto de HUGO VAN LAWRICK
Retirada do site: https://www.nationalgeographicbrasil.com

Jane Goodall, nasceu em Londres, em 03 de abril de 1934. Aos oito anos de idade, já era apaixonada pela África por causa das leituras de Tarzan e Dr. Doolittle. Porém, seguir seu sonho de trabalhar no continente africano e estudar os animais seria um caminho com os mais diferentes percalços.

Jane enfrentou a falta de condição financeira de sua família para pagar sua faculdade, o mundo fechado e masculinizado da ciência de seu tempo e as pressões para se transformar em uma personagem midiática caricata.

Sem dinheiro para pagar uma universidade, Goodall fez um curso de secretariado e, era trabalhando nesta profissão que ela se sustentava.

Sua primeira passagem de navio para a África foi comprada com um trabalho de garçonete. Seu destino inicial: o Quênia.

Em Nairobi, conseguiu uma entrevista de emprego com o paleoantropólogo Louis S.B. Leakey e foi contratada, como secretária. O interesse de Jane por primatas surgiu dos estudos pioneiros que Leakey fazia sobre as origens humanas.

Dali por diante, a trajetória de Jane Goodall na África seria o caminho de uma vida toda. Apesar de não ter formação universitária, Leakey viu potencial de pesquisadora em Jane e a mandou a campo, no Gombe Stream National Park, na Tanzânia.

Lá Jane enfrentou diversos tipos de ameaças naturais: malária, parasitas, serpentes, tempestades. Porém, estas não foram as únicas.

Não foi sem resistência e diversos tipos de preconceito que Jane Goodall abriu seu caminho. Por ser mulher, jovem e por não ser universitária, muito se tentou desqualificar as pesquisas de Jane que não seguiam metodologias acadêmicas. Felizmente, nada disso a impediu de prosseguir.

Em 1962, a National Geographics, que financiava seus estudos, enviou o fotógrafo holandês Hugo van Lawick, na época com 25 anos, para acompanhar o trabalho de Jane. Considerado um perfeccionista, Hugo tinha experiência com captação de imagens de natureza e vida selvagem.

Desta parceria, surgiram imagens que foram capas e matérias sobre o trabalho de Goodall e a tornariam famosa mundialmente. Em 1965, o filme Miss Goodall and the Wild Chimpanzees (Senhorita Goodall e os Chipanzés Selvagens – em tradução livre) foi produzido pela National Geographic e trouxe muita fama ao trabalho de Jane. Estima-se que um público de 25 milhões de telespectadores na América do Norte assistiu ao filme na época. Uma audiência espantosa. Jane precisou resistir muito ao assédio da mídia para não se tornar uma personagem caricata: a jovem e bela loira que vive entre os primatas…

Do encontro entre Jane e Hugo surgiu também um grande amor. Casaram e, em 1967, tiveram um filho, Hugo Eric Louis van Lawick. Os trabalhos distantes acabaram separando os dois em 1974.

Uma vida de reconhecimentos, feitos e ativismo

Jane Goodall: revoluções científicas, superações, lutas contra o preconceito e preservação dos Chimpanzés
Foto de HUGO VAN LAWRICK
Retirada do site: https://www.nationalgeographicbrasil.com

Como reconhecimento às suas descobertas e com o apoio de Leakey, um constante entusiasta do trabalha de Goodall, ela foi aceita no programa de doutorado da Universidade de Cambridge. Ainda na década de 60, tornou-se PhD em etologia, ciência que estuda o comportamento animal, e, até hoje, é uma das poucas pessoas obter essa graduação em Cambridge sem ter passado pelo curso universitário.

Em 1977, fundou o Jane Goodall Institute, o que deu grande força à manutenção e ampliação de sua pesquisa. Com o instituto, Jane uniu a causa da proteção animal à da conservação ambiental. Seus programas, atualmente, treinam jovens de aproximadamente 100 países para atuarem como conservacionistas.

Ao longo de sua trajetória, Jane Goodall escreveu dezenas de livros, orientou e estimulou novas gerações de cientistas, criou diversos santuários para chipanzés. Jane foi tema de mais de 40 filmes e de inúmeras apresentações na televisão. Em 2004, foi nomeada Mensageira da Paz pelas Nações Unidas.

E mesmo estando próxima dos 85 anos, Jane que, desde a década de 80, se declarou ativista, ainda viaja o Mundo prestando consultoria para governos, visitando escolas e fazendo palestras.

A produção mais recente que fala sobre Jane Goodall é “Jane: a Mãe dos Chipanzés”. Produzido pelo Canal National Geographic, o filme resgata cenas inéditas de sua trajetória para contar a história da pesquisadora.

Vale muito a pena conhecer seu trabalho!

Saiba mais sobre Jane Goodall e seu trabalho na página de seu instituto:

http://www.janegoodall.org/

Matérias que serviram de fonte para esse texto:

8 fatos sobre Jane Goodall, cientista que revolucionou a primatologia

https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2018/04/7-fatos-sobre-jane-goodall-cientista-que-revolucionou-primatologia.html

Quem é Jane Goodall?

https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2018/02/quem-e-jane-goodall

Nesta galeria de fotos, é possível ver ótimas imagens de Jane Goodall:

https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/2018/02/quem-e-jane-goodall?gallery=437666&image=jane-goodall-night-cliff

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