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O que você acha que os animais diriam se pudessem conversa conosco?
Pesquisadores interessados na área estão usando Inteligência Artificial (IA) com o intuito de decifrar as linguagens dos animais em apoio aos esforços de sustentabilidade e conservação.
Caminhamos para a comunicação bidirecional
Katie Zacarian, CEO e cofundadora do Earth Species Project (ESP), uma organização que usa IA para decodificar a comunicação animal, disse que “Estamos prestes a aplicar os avanços que estamos vendo no desenvolvimento da Inteligência Artificial para a linguagem humana na comunicação animal […] Com esse progresso, prevemos que estamos nos movendo rapidamente em direção a um mundo em que a comunicação bidirecional com outra espécie é provável.”
Contudo, esse trabalho não é nada simples. Embora exista uma grande quantidade de dados de comunicação animal que estão sendo coletados com sensores e dispositivos de gravação cada vez mais sofisticados, o objetivo [e também o desafio] é determinar sob quais condições um animal produz um sinal de comunicação, como o animal receptor reage e quais sinais são relevantes para influenciar ações. Para isso, é necessário uma minuciosa análise de grandes conjuntos de dados que contém comunicações animais variadas, como visuais, orais e físicas.
Como a IA analisa a linguagem dos animais?
De acordo com Karen Bakker, professora da University of British Columbia, “Para entender verdadeiramente a comunicação animal, temos que vincular isso ao comportamento”.
Nesse contexto, a análise que a Inteligência Artificial faz acerca da comunicação animal inclui conjuntos de dados de bioacústica; isto é, o registro de organismos individuais, e a ecoacústica, o registro de ecossistemas inteiros.
Dessa forma, os conjuntos de dados que estão sendo analisados para decodificar a comunicação animal incluem gravações de muitas espécies, como anfíbios, primatas, elefantes, insetos, principalmente abelhas e pássaros. Ademais, as linguagens comunicacionais de cães e gatos domesticados estão sendo analisadas. Entretanto, os especialistas observam que a comunicação entre os animais cetáceos; ou seja, as baleias, os golfinhos e outros mamíferos marinhos é especialmente promissora.
Zacarian explica que “Os cetáceos são particularmente interessantes por causa de sua longa história – 34 milhões de anos como uma espécie cultural e de aprendizado social […] E porque – como a luz não se propaga bem debaixo d’água – mais de sua comunicação é forçada através do canal acústico.”
Saúde do ambiente animal
Decodificar a comunicação animal certamente dará aos ecologistas ferramentas úteis e necessárias para avaliar a saúde do ambiente animal, sobretudo a compreensão de como a atividade humana distributiva, como a população de ruído ou a extração de madeira, afeta as populações de animais.
De acordo com Zacarian, “Ao monitorar os sons que vêm da natureza, podemos buscar mudanças na estrutura social, transmissão de informações culturais ou estresse fisiológico”.
Kay Firth-Butterfield, chefe de IA e aprendizado de máquina do Fórum Econômico Mundial, disse que “Entender o que os animais dizem é o primeiro passo para dar voz a outras espécies do planeta nas conversas sobre nosso meio ambiente […] Por exemplo, deve-se pedir às baleias que mergulhem fora do caminho dos barcos quando isso muda fundamentalmente sua alimentação ou os barcos devem mudar de rumo?”
Preocupações éticas com os animais
“Não temos certeza de qual será o efeito sobre os animais e se eles querem se envolver em algumas conversas […] Talvez se eles pudessem falar conosco, eles nos diriam para irmos embora”, comenta Bakker.
Nesse sentido, os pesquisadores estão enfrentando questões éticas, uma vez que alguns danos podem ser causados ao estabelecer canais de comunicação bidirecionais entre humanos e animais – ou animais e máquinas. Contudo, os pesquisadores estão tomando medidas para abordar e “suavizar” tais preocupações, inclusive relacionadas à exploração animal.