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Em seu livro, “Genesis” (2013), o consagrado fotógrafo Sebastião Salgado viajou por rincões do nosso planeta em busca de uma natureza que permanece intocada pela nossa sociedade da produção industrial, da urbanização e das tecnologias atuais. O livro ficou pronto depois de oito anos e 30 viagens para locais extremamente remotos.
O resultado é um trabalho com imagens do nosso próprio planeta, que nos fascinam pela beleza e ao mesmo tempo pela surpresa que nos provocam.
Entre essas viagens em busca de um planeta primordial, Salgado encontrou comunidades humanas vivendo de forma totalmente primitiva, mantendo tradições e modos de viver com milhares de anos de existência.
É possível encontrarmos povos tradicionais que mantém costumes e sabedorias muito diferente dos que conhecemos, através das viagens. E essa é uma oportunidade única para quem se interessa por outras culturas e pela história da humanidade e do planeta.
Nossa proposta neste artigo, é que você conheça um pouco mais de alguns povos diferentes e se inspire para sua próxima viagem.
África do Sul e os Ndebeles
Localizada cerca de 40 quilômetros de Pretória, a capital executiva do país, está a Vila de Mapoch, uma das aldeias que abriga os Ndebeles. Outro agrupamento vive na Província de Mpumalanga, situada no leste, na fronteira com a Suazilândia e Moçambique. No total, esta tribo reúne cerca de 650 mil pessoas e o que mais chama a atenção nos locais em que vivem são suas casas estampadas com cores muito vibrantes e padrões intrincados.
Este costume teria surgido como uma forma de comunicação, identificação e resistência das famílias. Após uma guerra contra os colonos de origem holandesa, os Boers, pouco antes do início do século 20, os padrões representavam mensagens que não eram codificadas pelos opositores, sendo interpretados apenas como algo decorativo.
Esta herança artística é passada de mãe para filha ao longo dos séculos. Ou seja: apenas as mulheres se dedicam aos artesanatos e grafismos que aparecem nas portas, paredes externas e também no interior de sua casa. O capricho na pintura revela – segundo os costumes locais – que a mulher que vive ali é uma boa esposa e mãe.
Nesta cultura, as mulheres costumam andar tão enfeitadas quanto suas casas. Assim como os dedos, seus pescoços são adornados por muitos colares feitos de anéis de cobre, que são símbolo de fidelidade aos seus maridos. Sempre envoltas em xales e vestimentas muito coloridas, elas são também as responsáveis por transmitir a cultura e a tradição do povo para as próximas gerações.
Os Masai, no Quênia e na Tanzânia
Considerados entre si como um “povo escolhido por Deus” e com a firme crença de que “o mundo foi criado apenas para eles”, os Masai (chamados ainda de masai ou maasai), são seminômades que vivem entre o Quênia e o norte da Tanzânia.
Devido a este traço cultural, este é o único grupo étnico autorizado a viajar livremente pelas fronteiras dos dois países e marca presença nos arredores dos Parques Nacional Masai Mara e Serengeti, respectivamente.
Tanto homens quanto mulheres masai têm os lóbulos das orelhas alargados. Outro aspecto típico são suas vestimentas de um vermelho muito vibrante e os coloridos adereços das mulheres, com destaque para os colares gigantescos e brincos maiores ainda. A venda destes artigos é, inclusive, uma das fontes de renda deste povo que sobrevive também do pastoreio de gado bovino e caprino.
Às mulheres cabem as tarefas de construírem as casas e cuidarem dos filhos. Já os homens cuidam do gado e da segurança do assentamento, chamado “boma”.
Atualmente, os Masai são tema de um debate que se refere à sua expulsão do Serengeti e do Parque Nacional Mkomazi, na fronteira entre a Tanzânia e o Quênia. Há quem julgue que os rebanhos dos masai, por dividirem as pastagens e água com os animais selvagens, causam danos ao meio ambiente.
Na contramão, há quem defenda que, por séculos, os massais e seu gado conviveram em equilíbrio com o restante da natureza e que qualquer projeto que visa preservar a fauna e a flora de determinadas áreas deve se estender também às tribos locais.
No centro-oeste brasileiro, o povo Xavante
“Auwê Uptabi”, povo verdadeiro, em português. É assim que o povo Xavante se denomina em seu idioma. Xavante é o nome que o colonizador atribuiu a eles. Localizada a duas horas da cidade de Canarana, no Mato Grosso (MT), a aldeia que fica próxima a Serra do Roncador e do Rio das Mortes tem um projeto inovador para que seus costumes sejam conhecidos pelos “warazu” ou “não-índio”.
A aldeia, em algumas épocas do ano, se abre à visitação. Mais uma vez, é o turismo atuando como elemento que auxilia na preservação da cultura, território, na autovalorização das novas gerações e na geração de renda desta aldeia.
Na chegada, os visitantes costumam ser recebidos pelo cacique Jurandir Siridiwê que resume a importância da vivência: “Tudo que você já aprendeu sobre os xavantes, na mídia ou nos livros didáticos, está errado!”. Por isso, o objetivo do Projeto “Wazu’ri’wá”, “O Desbravador”, é fazer com que eles mesmos possam contar suas histórias aos “estrangeiros”. Ou seja: é uma oportunidade para desmistificar ideias pré-concebidas em relação aos índios a este povo e conhecê-los mais verdadeiramente, sem clichês.
A transmissão da cultura se dá por meio das histórias e dos rituais na língua xavante, já que cerca de 80% da aldeia não fala português. Este povo possui um variado e rico calendário de rituais que podem ser testemunhados durante as visitas.
O povo xavante também é muito conhecido por suas corridas e por sua força física em que os integrantes dos clãs de uma tribo competem revezando no carregamento, por alguns quilômetros, de troncos de buriti com até 80 quilos.
Entre suas tradições mais fascinantes, está a consulta dos sonhos na tomada das decisões para a vida coletiva. Diariamente um conselho se reúne para tratar dos assuntos do dia e a interpretação dos sonhos é chave na resolução dos rumos deste povo.
Incas e o Peru
O império inca é considerado a civilização pré-hispânica de maior extensão da América, com seus domínios indo desde o Equador, sul da Colômbia, todo o Peru e a Bolívia, além do noroeste da Argentina e norte do Chile.
Mas, a partir da invasão espanhola, em 1533, e a morte de seu grande imperador, Atahualpa, o povo inca praticamente desapareceu. Porém, existem alguns resquícios remanescentes, sobretudo na região de Machu Picchu e na antiga capital do império, Cusco. O significado de seu nome é “umbigo do mundo”, na língua quíchua, o principal idioma falado ali, entre mais de 700 falados em todo território.
Uma das principais tradições quíchuas que se mantém viva até hoje, mas não se sabe até quando, é a tecelagem artesanal. Com características únicas, produzidos com lã de lhama, são encontrados em feiras, lojas de artesanato, em paradas nas estradas e são um souvenir para qualquer turista.
Mas, mais do que uma atividade econômica, este trabalho faz parte também da identidade cultural do povo peruano e indica a qual povo pertence – Quechua ou Aymara, outra etnia muito conhecida ali – além do estado civil e até o status social.
Por meio de técnicas passadas de geração para geração, as estampas dos tecidos contêm temas que vão desde as lendas, crenças, relatos do dia a dia até relatos históricos. É o caso por exemplo da morte do líder indígena, Tupac Amaru, morto na Praça das Armas em Cusco, cujo relato em imagens pode ser visto em um pedaço de tecido exposto no Museu Histórico Regional, no centro de Cusco.
Segundo a tradição oral, foi a esposa do primeiro imperador Inca, Mama Ocllo que ensinou às mulheres o poder de unir e desenhar com os fios. Assim, o ato de fiar é uma metáfora para o destino, o ritmo da vida e da morte e a relação sistêmica entre tudo o que existe. O entrelaçar das partes forma o inteiro.
Outro ponto forte da cultura inca é sua culinária. Em Cusco, vale a pena experimentar o tradicional ceviche, que vem além do peixe marinado em muito limão, dois tipos de grãos de milho. Um excelente lugar é o Inka Grill.
Experimente também a carne de lhama, que pode ser grelhada ou cozida e sempre vem acompanhada de grãos andinos, como a quinoa ou a chia. Para quem deseja uma experiência mais exótica, o cuy é uma boa pedida. Esta iguaria é uma espécie de porquinho-da-índia servido à moda antiga em muitos restaurantes: ele chega à mesa com a cabeça, as patas e até o rabo. É uma carne muito saborosa e um dos locais mais famosos que servem a iguaria é o La Casona del Cuy.
Estando diante desses povos, não perca a oportunidade de provar sabores, observar os costumes e procurar entender as tradições de cada um destes povos. É por meio do contato e do conhecimento que se passa a respeitar as diferenças. Essas diferenças podem tornar a vida e as viagens extremamente peculiares e atrativas.
Quando produziu o livro Genesis, Sebastião Salgado disse que tinha como um dos objetivos que: “as pessoas enxerguem o nosso planeta de outra forma, sintam-se comovidas e se aproximem mais dele”. O mesmo vale para viagens!
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