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Mergulho, observação de baleias e de pássaros são algumas das experiências únicas do arquipélago
Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil, mas foi o italiano Américo Vespúcio um dos responsáveis por descrever e nomear locais por onde passou. Em primeiro de janeiro de 1501, ao se deparar com o que parecia a foz de um grande rio, batizou o lugar de “Rio de Janeiro”.
Mas, talvez, Vespúcio tenha morrido sem saber que, sem querer, deu nome a um lindo arquipélago do nosso litoral: “Abrolhos”. Em 1503, ao passar pelo sul da Bahia, em um mar cheio de recifes de corais, escreveu em uma carta náutica “quando te aproximares da terra, abra os olhos”, em sinal de advertência contra naufrágios e encalhes.
Mas, quem passa por ali deve abrir os olhos também por outros motivos. A região abriga espécies endêmicas, raras e algumas em extinção. Com uma das maiores biodiversidades marinhas de todo o Atlântico Sul, Abrolhos foi o primeiro Parque Nacional Marinho brasileiro.
Sua área de 913 quilômetros quadrados abriga cinco ilhas vulcânicas: Redonda, Sueste, Guarita, Santa Bárbara – sob controle da Marinha do Brasil, única habitada e onde se localiza o farol –; e Siriba, a única aberta a visitações. O parque está localizado a cerca de 75 quilômetros da cidade costeira de Caravelas, que fica na Costa do Descobrimento.
Uma viagem ao Sul da Bahia é capaz de nos oferecer uma diversidade de atrações tão grande que parece ser impossível reunir em um lugar só. Por isso, a Ambiental vai além dos roteiros tradicionais, explorando lugares que não são comumente visitados.
Abrolhos
Entre Julho e Novembro, as baleias Jubartes, um dos maiores mamíferos do planeta, aproveitam as águas da região para procriação. Neste período, passeios de barcos levam interessados, acompanhados por guias especializados do Projeto Baleia Jubarte, até a região onde a chance de observá-las é maior.
Além disso, Abrolhos é o único lugar do planeta onde se encontram os corais-cérebro, além de espécies em extinção, como as tartarugas de couro, cabeçuda, verde e de pente. Um levantamento da biodiversidade da região registrou aproximadamente 1,3 mil espécies, sendo 45 delas consideradas ameaçadas.
Partindo de Caravelas, a chegada pode ser feita por catamarã, com percurso que dura, em média duas horas; por lancha, com duração de duas horas e meia; de traineira, quatro horas; e escuna, seis horas. É possível visitar o Parque o ano todo, mas a visitação é controlada.
O arquipélago de Abrolhos despertou a curiosidade de Charles Darwin, que o visitou em 1832. O local resguarda porção significativa do maior banco de corais e da maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul. Criado em 1983, o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos representou um marco para a conservação marinha no país.
Portanto, ao avistar qualquer uma dessas espécies, abra bem os olhos porque pode ser que não sejam vistas novamente. Lembre-se que da natureza, a única coisa que se tira são fotografias. E ali, motivos para fotografar é o que não faltam.
Parque Nacional e Histórico do Monte Pascoal
No Monte Pascoal se encontra a primeira porção de terra do Brasil avistada por Cabral. Na portaria principal do Parque, onde o Monte se encontra, está a Aldeia Pataxó Pé do Monte. Ali, somos apresentados a algumas das manifestações culturais desta etnia, conhecemos o modo de vida local, podendo degustar a culinária típica e comprar artesanatos.
A vista de cima do Monte Pascoal é uma atração belíssima onde é possível chegar com uma caminhada que exige um pouco de preparo físico. São os pataxós desta aldeia que nos conduzem para a visita pelo Parque. A recepção calorosa dos anfitriões é uma atração à parte na visita.
Movimento Cultural Arte Manha
Um diferencial no roteiro da Ambiental é uma visita a este centro cultural que usa o teatro, desenhos, grupos musicais e de danças, voltados a pesquisas das raízes culturais afro-indígena; a preocupação ecoartesanal nas esculturas em madeira e estamparias em tecido que reproduzem símbolos típicos da cultura e da natureza da região; a produção audiovisual que trata de questões culturais e sociais ligadas à comunidade são algumas das características deste Movimento.
É através da arte que os participantes do Arte Manha vêm transformando o município de Caravelas, desde a década de 80. A região em que surgiram, conhecida como “Avenida”, antes marginalizada, é
hoje vista como polo de produção artístico e exemplo de como a integração entre as pessoas pode trazer melhorias que vão da convivência, à infraestrutura da região. A cultura fortalece a autoestima dos moradores e estimula a coesão social, além de oferecer alternativas de geração de trabalho e renda, e enfatizar a importância do trabalho cooperativo e da proteção ao meio ambiente.
O documentário Mokussuy, a palavra significa peixe na língua Pataxó, de Jaco Galdino, é uma produção do Arte Manha, e de seu núcleo de audiovisual “Avenida Filmes”. No documentário, ao conversar com moradores da região, mostra como o ecossistema, a cultura e a sobrevivência da população local são beneficiados por ações, exigindo políticas públicas como a criação da Reserva Extrativista de Cassurubá, o Parque Nacional de Abrolhos e tantas outras.
Selecionado para o Festival de Cinema de São Paulo 2010, Mokussuy (clique para assistir – https://www.youtube.com/watch?v=B2Cp6_rLTIY) é uma bela oportunidade para quem quer conferir a qualidade da produção do Arte Manha e, de quebra, saber mais sobre vários pontos de parada indispensáveis para quem visita a região.
Reserva Extrativista de Cassurubá
Criada em 2009, a unidade de conservação (UC) abrange uma área de 100.687 hectares de estuários, restingas, mangues e ambientes marinhos. A Reserva surgiu a partir da demanda de marisqueiros, extrativistas e pescadores preocupados com questões como a pesca predatória de caranguejos e com a especulação imobiliária. Entre essas pessoas, muitos fazem parte do movimento Arte Manha, do qual falamos acima.
Uma proposta de criação de camarões em escala industrial, ameaçava toda a fauna e flora da região. Da resistência dos moradores, surgiu uma série de iniciativas que valorizam os modos tradicionais de sobrevivência e toda a cultura que os moradores traziam de seus antepassados.
Localizada entre as cidades de Caravelas e Nova Viçosa, a região foi porto exportador de madeira da mata atlântica nativa – incluindo o Pau Brasil -, e o porto era abastecido através da Estrada de ferro Bahia-Minas, desativada na década de 1960, que virou tema da canção Ponta de Areia, de Milton Nascimento e Fernando Brant.
Hoje, mais de 1.000 famílias ganham seu sustento e buscam preservar o meio-ambiente na área protegida. Uma visita ao local, é oportunidade de muito aprendizado.
Porto Seguro
Uma região que concentra os títulos de Patrimônio Histórico Nacional e de Patrimônio Natural da Humanidade precisa ser visitada. Uma rica e preservada arquitetura que nos leva aos tempos da chegada dos portugueses e abriga prédios e peças muito valiosos do século XVI, está rodeada de Mata Atlântica e praias de encher os olhos.
Esta cidade foi a primeira região habitacional do Brasil, e é exatamente pela importância histórica que vale a visita ao Marco do Descobrimento, ao Museu do Descobrimento e ao Museu de Porto Seguro.
Uma ótima pedida é aproveitar das belas construções religiosas. A Igreja Matriz Nossa Senhora da Pena, por exemplo, preserva imagens sacras dos séculos XVI e XVII; a igreja do Senhor dos Passos é repleta de imagens em estilo Barroco. Arquitetura e acervos igualmente interessantes podem ser encontrados na igreja da Misericórdia e Igreja de São Benedito e em diversos outros pontos históricos da cidade.